Entrevistas

25 Abril 2023 | Reflexões sobre Chat GPT e Educação no curso de Design. Entrevista concedida a Tarsis Carvalho Santos. Salvador 25 de abril de 2023

Tarsis: Antes de começarmos, Josemeire, poderia nos contar um pouco sobre sua experiência e conhecimento na interseção entre a tecnologia e a educação?

Josemeire: Primeiro agradecer ao convite para essa entrevista e espero contribuir para as pesquisas na área. Eu sou professora desde 1995 quando lecionei pela primeira vez e foi logo na pós-graduação. Uma pós-graduação voltada para a formação de professores na área de Tecnologia. Foi um grande desafio, visto que estávamos no inicio da liberação da internet comercial no Brasil e havia muitas novidades na época.

Tarsis: Para começar, gostaria que você nos explicasse o que é o Chat GPT e como ele funciona.

Josemeire: O Chat GPT é um modelo de linguagem avançado desenvolvido pela OpenAI. Ele faz parte da família GPT (Generative Pre-trained Transformer) e é projetado para gerar respostas coesas e contextuais a partir de uma entrada de texto fornecida. O ChatGPT utiliza técnicas de aprendizado de máquina e redes neurais para entender e produzir texto de maneira similar ao humano.

Tarsis: Sabemos que a tecnologia está cada vez mais presente na educação. Quais são as principais potencialidades do Chat GPT na área educacional, na sua opinião?

Josemeire: Eu não falaria apenas do Chat GPT, mas da IA que já está presente em diversas atividades do nosso cotidiano, na plataformização das atividades e no novo modo de vida que estamos nos condicionando e que está relacionando com as grandes empresas de tecnologias, chamadas de BigTECHS. A potencialidade é imensurável e no caso do chatGPT são inúmeras as estratégias que podem ser criadas e apoiadas na sua interação a exemplo de: correção de códigos de programação, criação de imagens, simulação, criação de roteiros, narrativas e muitas outras. O chat GPT é apenas uma dessas ferramentas, existem outras como o Bing que tem a Microsoft no controle, apnas para citar um exemplo.

Tarsis: Pela sua resposta é possível perceber que a senhora é a fovor do ChatGPT em sala de aula. É verdade?

Josemeire: Eu sou a favor de qualquer ferramenta que possa potencializar a aprendizagem dos alunos, que possa mobilizá-los. Quando inicio uma turma eu sempre entro com o sentimento de que também sou aluna juntamente com os meus alunos, talvez por isso eu tenha uma certa resistência em dizer “fulano foi meu aluno”, pois muitos foram meus colegas. E penso que o professor deve sim ter essa postura de aprender juntamente com os seus alunos – fica muito mais interessante. Nunca tive vergonha de dizer – isso eu não sei, mas vou ficar sabendo ainda hoje rsrs.

Tarsis: Quais os riscos que você visualiza no ChatGPT ou na IA? A IA vai substituir o professor?

Josemeire: Fico sempre muito chateada com essa conversa a cada tecnologia que surge. Me parece que a primeira área a se incomodar é a da educação – rejeita inicialmente e depois usufrui de forma intensa, como foi o caso da INternet e hoje a EAD já ultrapassa o ensino presencial superior. A IA vai substituir muitos humanos, principalmente aqueles que executam tarefas repetitivas que podem ser realizadas por uma máquina e já vem acontecendo ao longo dos anos com o desenvolvimento da tecnologia. É só lembrar de Charles Chaplin no filme tempos Modernos, mas também precisamos estar atentos aos sinais que a tecnologia vai nos dando, só para citar um exemplo: as agências de viagens – quantas fecharam as portas com as novas possibilidades de sermos nós mesmos os nossos agentes de viagens e antes de viajarmos fazermos um tour com o street view e google maps. Além de buscar descontos em voos com os apps voltados para a área.

Tarsis: Quais seriam os principais desafios e preocupações em relação à utilização do Chat GPT na educação?

Josemeire: Riscos que eu vejo são similares ao da Internet, como contéudo impróprio para menores sem um certo controle; questões éticas, pois certamente o conteúdo apresentado vem de alguma base e tem autoria, então o sujeito se apropria de ideias que são de outras pessoas. Então penso que o grande desafio é a concientização com discussões sobre essas ferramentas. Além do mais o ChatGPT é treinado e pode apresentar erros nas suas respostas, então é preciso ter uma certa consciência da interação com essas ferramentas.

Tarsis: Ao que vc atribui o sucesso estrondoso do ChatGPT?

Josemeire: Ai a gente chama para a área de Design – EXperiência do Usuário (UX) – a facilidade de uso é primordial. Então quando esse usuário interage com a ferramenta de forma fluida e obtem respostas rápidas e satisfatórias ele se empolga. Citando meu exemplo, na primeira vez que interagi com o ChatGPT eu passei a noite conversando com ele, fiz tantas perguntas que quando me dei conta já eram 3h da manhã. O resultado foi que eu decidi refazer o planejamento da minha disciplina Computação Gráfica 3 no curso de design para interação com o chat gpt.

Tarsis: Neste contexto de aproximação da IA, como você pensa as competências digitais docentes na contemporaneidade?

Josemeire: Essa é uma discussão que eu gosto! Aliás tem duas discussões que eu gosto, uma é sobre competências digitais e a outra é “O aluno protagonista da sua aprendizagem”. Quando Prensky escreveu sobre isso centenas de textos foram criados citando o autor e o seu pensamento em relação aos Nativos Digitais. Eu discordo da sua opinião e acredito que os alunos precisam sim de acompanhamento e direcionamento, pois talvez seja mais fácil para eles saber utilizar uma ferramenta, um smatphone, acessar aplicativos, se inscrever em ambientes diversificados, mas isso não é tudo – é preciso do guia, do elemento chave, que é o professor, mesmo que nao seja mais com esse nome. É verdade que a aula expositiva e “powerpontiana” precisa ser revesada com atividades que deem mais movimento e mobilizem os estudantes, mas minimizar a importância do professor no contexto de aprendizagem não é o caminho a ser seguido.

Em relação às competências digitais, vejo que o Brasil não possui ainda um documento, utilizando-se de documentos europeus, embora tenhamos algumas iniciativas como a da equipe do Professor João Mattar. Na minha visão as competências digitais, com a velocidade do desenvolvimento tecnológico, vai virar uma espécie de “Norma” que tem atualizações recorrentes. Acho interessante esse direcionamento para que professores se insiram e sejam competentes digitalmente, mas com a IA acredito que em breve essas competências se transformem em Competências dos prompts.

E claro que não vamos acabar essa entrevista sem dialogar com o ChatGPT. Pedi que ele responda o que são prompts e lá vai ele…

Prompts são instruções ou textos de entrada fornecidos a modelos de linguagem como o ChatGPT para orientar a geração de respostas ou texto continuado. Eles podem ser uma pergunta, uma frase incompleta, um trecho de texto ou qualquer outra forma de estímulo para solicitar uma resposta específica do modelo.

Tarsis: Muito obrigado, Professora Josemeire, por compartilhar seus conhecimentos e reflexões conosco. Até a próxima!

Tarsis de Carvalho Santos é Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação EDucação e Contemporaneidade – PPGEDUC da Universidade do EStado da Bahia – UNEB. Especialista em Currículo de Formação Científica, Tecnológica e Cultural pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB. MBA em Gestão Estratégica de Projetos e Metodologias Ágeis pelo Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE. Graduado em Licenciatura em História pelo Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE. Graduado em Marketing pelo Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE. Graduado em Licenciatura em Pedagogia pelo Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE. Membro do grupo de pesquisa Geotecnologias, Educação e Contemporaneidade – GEOTEC/UNEB. Pesquisador nas áreas de História, Memória, Contemporaneidade, Cultura Escolar, Práticas Pedagógicas, Tecnologias da Informação e da Comunicação, Educação a Distância, Inovação e Geotecnologia.

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